Os salmos na nossa vida – Salmo 7 – Apelo à justiça de Deus


Dom José Francisco Falcão de Barros
reflete o Salmo 7,10-11. Cita textos de Santo Agostinho, São João Crisóstomo e São Basílio Magno:

Ponde fim à malícia dos ímpios e sustentai o direito, ó Deus de justiça, que sondais os corações e os rins
Salmo 7,10

“Sustentai o direito, ó Deus de justiça, que sondais os corações e os rins”. Como pode o justo ser guiado senão no seu interior? Pois, mesmo o que era admirável no começo da era cristã (os santos ainda eram oprimidos pela perseguição dos mundanos) agora (depois que o nome de cristão atingiu posição tão elevada) aumentou a hipocrisia, quer dizer, a simulação daqueles que sob o nome de cristãos preferem agradar mais aos homens do que a Deus. Como, pois, é orientado o justo no meio de tamanha confusão, causada pela simulação, senão quando Deus sonda os corações e os rins, vendo os pensamentos de todos? Estes são designados pela palavra ‘coração’ e os prazeres, pelo termo ‘rins’. Com razão, atribui-se aos rins o deleite nas coisas terrenas e temporais, porque no homem é a parte inferior, onde se localiza a volúpia da geração carnal, pela qual nesta vida atribulada e cheia de alegria falaz, se transmite a natureza humana, pela sucessão da prole. Se Deus, portanto, sonda nosso coração, e vê que está o nosso tesouro lá (Mt 6, 21), isto é, nos céus, se também sonda os rins e verifica que não cedemos à carne e ao sangue, mas nos deleitamos no Senhor, ele guia o justo, em sua presença, na própria consciência, onde ninguém divisa alguma coisa, exceto ele, que enxerga o pensamento e o deleite de cada um. O fim visado pelos desejos é o deleite: cada qual preocupa-se e cogita como obter o prazer. Quem sonda nosso coração, vê nossas preocupações; igualmente, quem sonda os rins vê a finalidade de nossos cuidados, isto é, o deleite. Quando verifica que nossas preocupações não se inclinam para a concupiscência carnal, nem para a concupiscência dos olhos, nem para a ambição mundana, que passam como sombras (1Jo 2, 16.17), mas que se elevam às alegrias dos bens eternos, invioláveis, imutáveis, Deus, que sonda os corações e os rins, guia o justo. Nossas obras, em atos e palavras, podem ser conhecidas dos homens; mas só Deus, que sonda os corações e os rins, sabe com que ânimo são feitas e aonde, por meio delas, desejamos chegar”.

Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 7, 9

 

“Ao castigar os malvados, os justos se tornam mais atentos. Disso surgem dois benefícios: uns desistem do vício e outros se aproximam mais da virtude. Da mesma maneira que um homem sadio, ao ver outro cauterizado ou amputado, chega a ser mais cuidadoso com a saúde, assim também aqui. Muitos dos que então se escandalizavam e dos que pareciam fiar-se em si mesmos, pela prosperidade dos maus se tornaram ainda mais loucos. Por isso, o mesmo Davi diz em outra parte: Quase resvalaram os meus pés, porque tive inveja dos arrogantes (Sl 72, 2-3). E outro diz também: “Por que prospera o caminho dos ímpios?” (Jr 12, 1). Jó também se perguntava o mesmo muitas vezes (cf. Jó 10, 3; 20, 5; 21, 16; etc.). Mas naquela época, como as pessoas falavam sem instrução, diziam o que diziam e se buscava o que se buscava; não obstante, aquele que agora se preocupa com essas coisas não é digno de nenhuma indulgência, e aquele que aprendeu a filosofar isto é, aquele que recebeu tal doutrina sobre o futuro e foi claramente doutrinado sobre a geena e o reino, será recebido lá de acordo com os seus méritos”.

São João Crisóstomo (347-407)
Comentário aos Salmos, 7, 4

 

O meu escudo é Deus, ele salva os que têm o coração reto
Salmo 7,11

“A minha ajuda não deriva da riqueza, dos meios materiais, da minha força, do meu poder ou dos meus laços familiares, mas “o meu auxílio vem do Senhor”. Qual ajuda o Senhor envia àqueles que O temem podemos ver em outro lugar, no Salmo que diz: “O anjo do Senhor acampa ao redor daqueles que O temem, e os salva” (Sl 34, 8).

São Basílio Magno (330-379)
Homilias sobre os Salmos, 7, 13

 

“O meu escudo é Deus, que salva os que têm o coração reto”. Dois são os objetivos da medicina: primeiro, curar a doença; segundo, conservar a saúde. Quanto ao primeiro, pronunciou-se o Salmo precedente: “Tem piedade de mim, Senhor, estou enfraquecido” (Sl 6, 3); quanto ao segundo, declara o presente Salmo: “Se manchei as mãos na iniquidade, se paguei com o mal aos que retribuíam com o mal, sucumba sem razão nas mãos de meus inimigos”. Naquele, o doente suplica ser libertado; neste, o são pede para não ser contaminado. O primeiro reza: “Salva-me por tua misericórdia”; o segundo pede: “Julga-me, Senhor, segundo a minha justiça”. Aquele quer remédio para escapar da doença, este suplica socorro para não recair. Diz aquele: “Salva-me, Senhor, por tua misericórdia”; este declara: “O meu escudo é Deus, que salva os que têm o coração reto”… Se Ele oferece remédio que cura nossas doenças, quanto mais não dará o que nos conserva sadios? Porque “Cristo morreu por nós quando éramos ainda pecadores. Quanto mais, então, agora, justificados por seu sangue, seremos por ele salvos da ira?” (Rm 5, 8.9).

Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 7, 10-11

 

Luz da Vida:
O programa Luz da Vida nasceu da necessidade de proclamar o nome santo de nosso Senhor Jesus Cristo, de levar a todos os corações a certeza de que não existe outro nome debaixo do céu pelo qual devamos ser salvos: Jesus Cristo.

“Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Mt 8, 12). Foi essa passagem bíblica que inspirou a criação e o nome do programa, que tem uma finalidade simples e audaciosa: apresentar Jesus Cristo como Caminho, Verdade e Vida. Como Luz que ilumina a vida de todos nós.

A cada programa, Dom José Falcão de Barros apresenta um tema diferente, abordando questões espirituais e materiais da vida hodierna, à luz do Evangelho de Jesus Cristo, da doutrina, do magistério e da tradição da Igreja Católica Apostólica Romana.