Os salmos na nossa vida – Salmo 7 – Apelo à justiça de Deus


Dom José Francisco Falcão de Barros
reflete o Salmo 7,1. Cita textos de Santo Agostinho:

Lamentação de Davi, que cantou em honra do Senhor, por causa de Cus, o benjaminita.
Salmo 7,1

“‘Lamentação de Davi, que cantou em honra do Senhor, por causa de Cus, o benjaminita’. No segundo livro de Samuel (2Sm 16), é fácil descobrir a história que ocasionou esta profecia. Ali, Cus, amigo do rei Davi, passou para as fileiras de Absalão, filho deste, que guerreava o pai, a fim de sondar-lhe os planos e revelar o que ele urdia contra o pai, instigado por Aquitofel, o qual traíra a amizade a Davi e dava ao filho, contra o pai, os conselhos que podia”.

“Neste Salmo, não se há de levar em consideração a própria história, cujo véu misterioso o profeta adotou; mas, se passamos a Cristo, o véu é retirado (cf. 2Cor 3, 16). Em primeiro lugar, interroguemos qual o sentido desses nomes. Não faltaram intérpretes que, investigando o sentido espiritual, não o carnal, literal desses nomes, afirmaram que Cus significa silêncio; Benjamin, direita; Aquitofel, ruína do irmão. Com tais interpretações, novamente se nos apresenta o traidor Judas, do qual Absalão é imagem, porquanto seu nome significa paz do pai. Seu pai se manteve em paz para com ele, enquanto ele nutria a guerra no coração, com seus ardis, conforme expusemos no comentário ao Salmo terceiro”.

“No Evangelho, lemos que os discípulos foram chamados filhos de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Mt 9, 14); igualmente foram denominados irmãos, pois disse o Senhor ressuscitado: ‘Vai a meus irmãos e dize-lhes’ (Jo 20, 17), e o Apóstolo chama a Cristo de ‘primogênito entre muitos irmãos’ (Rm 8, 29). Com acerto, ruína do irmão, significado de Aquitofel, como acima dissemos, representa a ruína do discípulo traidor. Por Cus, que significa silêncio, se entende que nosso Senhor combateu contra aquelas fraudes em silêncio, isto é, em profundo segredo. Devido a este plano secreto, a cegueira sobreveio em parte a Israel, que perseguia o Senhor, e isto até que entrasse a plenitude das nações, e assim se salvasse todo Israel”.

“Tendo penetrado neste profundo segredo e grande silêncio, exclamou o Apóstolo, como que tomado de vertigem diante deste abismo: ‘Ó abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Como são insondáveis seus juízos e impenetráveis seus caminhos! Quem, com efeito, conheceu o pensamento do Senhor? Ou quem se tornou seu conselheiro?’ (Rm 11, 33.34). Assim o Apóstolo não tanto faz uma exposição daquele profundo silêncio, antes o propõe à admiração. Ocultando neste silêncio o mistério da venerável paixão, o Senhor transformou a ruína voluntária do irmão, isto é, o abominável crime do traidor, em plano misericordioso e providencial”.

“O Senhor destinou, em sua providência, a ação do traidor que visava perversamente à ruína de um só homem, à salvação de todos os homens. A alma perfeita, portanto, que já é merecedora de conhecer o segredo de Deus, canta o Salmo ao Senhor. Canta ‘por causa de Cus’, porque mereceu conhecer as palavras daquele silêncio. Para os infiéis e perseguidores, aquilo é silêncio e segredo. Para os seus, porém, aos quais foi dito: ‘Não mais vos chamo servos, porque o servo não sabe o que seu amo faz; mas eu vos chamo amigos, porque tudo o que ouvi do Pai eu vos dei a conhecer’ (Jo 15, 15), para os amigos, não há silêncio, mas palavras de silêncio, isto é, a razão explicada e manifesta daquele silêncio”.

Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 7,1

“Absalão se tornou inimigo do pai, fez não só guerra civil contra ele, mas também criou uma luta doméstica. Davi, porém, não se abateu iniquamente, mas humilhou-se com piedade, aceitou a correção da parte do Senhor, suportou o medicinal tratamento; não retribuiu maldade com maldade, mas de coração pronto aceitou a vontade do Senhor (cf. 2Sm 1, 5.16). Aquele Davi foi deste modo digno de louvor; mas devemos reconhecer outro Davi, verdadeiramente Mão forte (assim se traduz a palavra Davi), nosso Senhor Jesus Cristo”.

“Aqueles feitos passados eram figuras do futuro; não preciso recomendar longamente o que ouvistes com frequência, e guardais muito bem na memória… Reconheçamos ainda como também a Cristo o filho perseguia; pois tinha filhos dos quais declarava: Os filhos do esposo não jejuam, enquanto o esposo está com eles. ‘Dias virão, quando o esposo lhes será tirado; então, sim, jejuarão’ (cf. Mt 9, 15). Em consequência, filhos do esposo são os Apóstolos: e entre eles, Judas, o perseguidor, um diabo”.

Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 142, 2

 

Luz da Vida:
O programa Luz da Vida nasceu da necessidade de proclamar o nome santo de nosso Senhor Jesus Cristo, de levar a todos os corações a certeza de que não existe outro nome debaixo do céu pelo qual devamos ser salvos: Jesus Cristo.

“Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Mt 8, 12). Foi essa passagem bíblica que inspirou a criação e o nome do programa, que tem uma finalidade simples e audaciosa: apresentar Jesus Cristo como Caminho, Verdade e Vida. Como Luz que ilumina a vida de todos nós.

A cada programa, Dom José Falcão de Barros apresenta um tema diferente, abordando questões espirituais e materiais da vida hodierna, à luz do Evangelho de Jesus Cristo, da doutrina, do magistério e da tradição da Igreja Católica Apostólica Romana.