Os salmos na nossa vida – Salmo 6 – A oração no sofrimento
Dom José Francisco Falcão de Barros reflete o Salmo 6,4-6. Cita textos de São João Crisóstomo, Santo Agostinho e Dídimo:
“Minha alma está muito perturbada; vós, porém, Senhor, até quando?”
Salmo 6,4
“São próprias dos médicos essas três coisas, ou melhor quatro, e inclusive cinco: o médico, a ciência, o enfermo, a enfermidade a força dos remédios e que existam certos combate e luta; pois, junto com o médico, a ciência e os fármacos, também vence a enfermidade a vontade do enfermos. Se o enfermo estiver disposto a isso, lançará para longe de si a debilidade; porém, se se indispuser contra o médico, os remédios e a ciência, debilitar-se-á a si mesmo. Assim também acontece conosco, e não só assim, mas de uma forma muito mais maravilhosa. Muitas vezes, alguém está enfermo sob o cuidado dos médicos, inclusive com técnicas e medicamentos, e nada aproveita, quando a natureza está debilitada: a ciência não é eficaz, quando carece de poder um determinado tratamento. Quanto a Deus isso não ocorre: quando te colocas diante do Médico, a ferida é curada totalmente. Com efeito, não se trata de uma ciência humana que careça de efeito, mas de um poder divino que é soberano diante da natureza, das enfermidades, da perversidade e de todo mal”
São João Crisóstomo (347-407)
Comentário aos Salmos, 6, 3, 2
“Voltai, Senhor, livrai minha alma; salvai-me, pela vossa bondade”
Salmo 6,5
“‘Voltai, Senhor, livrai a minha alma’. Convertendo-se, a alma pede a Deus que também se volte para ela, conforme se diz: ‘Retornai a mim’ — oráculo do Senhor — ‘e eu retornarei a vós’ (Zc 1, 3). A locução ‘voltai, Senhor’, acaso deve ser entendida como: Faze com que me volte, porque sente dificuldade e luta na própria conversão? Pois, nossa perfeita conversão encontra a Deus sempre pronto, conforme diz o profeta: ‘Certa, como a aurora, é sua vinda’” (Os 6, 3ss). A causa de O perdermos não está na ausência daquele que se acha presente em todo lugar, e sim em nosso afastamento dele. ‘Ele estava no mundo e o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o conheceu’ (Jo 1, 10). Se estava neste mundo e o mundo não o conheceu, foi porque nossa impureza não suporta a sua presença”.
“Quando, porém, nos voltamos para Ele, quando remodelamos nosso espírito, mudando de vida, percebemos ser duro e laborioso retornar das trevas das concupiscências terrenas à serenidade e tranquilidade da luz divina. E em tal dificuldade dizemos: ‘Voltai, Senhor’, ajudai-nos a completar nossa conversão, que vos encontrais preparado e disposto a oferecer-vos aos que vos amam, para sua fruição. Por conseguinte, depois de haver dito: ‘Voltai, Senhor’, acrescentou: ‘Livrai minha alma’, como se ela, na própria conversão, se sentisse presa das perplexidades deste século e sofresse uma espécie de picadas de espinhos, desejos dilacerantes.
“‘Salvai-me, pela vossa bondade’. Percebe não ser curada por seus próprios méritos, visto ser justa a condenação do pecador que transgrediu o preceito dado. Curai-me, portanto, não devido a meus méritos, e sim por causa de vossa misericórdia”
Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 6, 5
“Podemos entender a palavra ‘Voltai’ em dois sentidos. Às vezes, o sentido é este: ‘Já que lançastes a vossa face para longe de mim, eu vos peço agora para voltar-vos para mim e mostrar a vossa misericórdia’. Outras vezes, o sentido é este: ‘Já que a minha alma se voltou para o mal, vós agora, dirigindo-se à minha alma e chamando-a (assim como: ‘Voltai, filhos rebeldes’ (Jr 3, 14.22)), resgatai a minha alma dos muitos pecados e das forças que causam tais males”
Dídimo, o cego (313-398)
Fragmentos sobre os Salmos, 6, 4.5
“Porque no seio da morte não há quem de vós se lembre; quem vos glorificará na habitação dos mortos?”
Salmo 6,6
“‘Porque no seio da morte não há quem de vós se lembre’. O salmista compreende igualmente que agora é tempo de conversão, uma vez que passada a vida só resta a retribuição pelos méritos. ‘Quem vos glorificará na habitação dos mortos?’ Confessou no inferno aquele rico que, na parábola do Senhor, viu Lázaro no repouso, enquanto ele mesmo se doía no meio de tormentos. Confessou a tal ponto que desejava exortar os seus a se absterem de pecados, por causa dos castigos que não acreditavam haver no inferno (Lc 16, 23-31). Confessou, mas inutilmente, serem justos os tormentos, mostrando desejo de que os seus fossem instruídos para neles não incidirem. O que significa, então: ‘Quem vos glorificará na habitação dos mortos?’ Acaso habitação dos mortos representa o lugar onde, após o juízo, serão precipitados os ímpios, e onde, por causa das trevas profundas, não verão luz alguma de Deus, ao qual confessem por determinado motivo? Pois, este rico, erguendo os olhos, apesar de separado de Lázaro por abismo horrível e profundo, pôde vê-lo no repouso”.
“Comparando-o consigo, foi constrangido a confessar ter merecido seu castigo. Outra explicação existe ainda. Denomina-se ‘morte’ o pecado cometido por desprezo da lei divina, de sorte que chamemos ‘morte’ o aguilhão da morte, o qual a ela conduz, porque ‘o aguilhão da morte é o pecado’ (1Cor 15, 56). Nesse tipo de morte, esquecimento de Deus é desprezar a sua lei e os seus preceitos. Diria ser “inferno” a cegueira da alma que surpreende e envolve o pecador, isto é, o moribundo. ‘Como se recusaram a procurar uma noção exata de Deus, Deus entregou-os a um sentimento depravado’ (Rm 1, 28). A alma suplica livrar-se desta morte e deste ‘inferno’, quando se empenha em converter-se a Deus, mas sente dificuldades”
Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 6, 6
Luz da Vida:
O programa Luz da Vida nasceu da necessidade de proclamar o nome santo de nosso Senhor Jesus Cristo, de levar a todos os corações a certeza de que não existe outro nome debaixo do céu pelo qual devamos ser salvos: Jesus Cristo.
“Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Mt 8, 12). Foi essa passagem bíblica que inspirou a criação e o nome do programa, que tem uma finalidade simples e audaciosa: apresentar Jesus Cristo como Caminho, Verdade e Vida. Como Luz que ilumina a vida de todos nós.
A cada programa, Dom José Falcão de Barros apresenta um tema diferente, abordando questões espirituais e materiais da vida hodierna, à luz do Evangelho de Jesus Cristo, da doutrina, do magistério e da tradição da Igreja Católica Apostólica Romana.