Os salmos na nossa vida – Salmo 6 – A oração no sofrimento
Dom José Francisco Falcão de Barros reflete o Salmo 6,1-2. Cita textos de Santo Agostinho e Deodoro de Tarso:
“Ao mestre de canto. Com instrumentos de corda. Em oitava. Salmo de Davi”
Salmo 6,1
“Procuremos o significado deste título: ‘Em oitava’. É possível, sem nenhum cálculo temerário de anos, entender-se o dia do juízo como sendo o oitavo, porque depois do fim deste mundo, as almas dos justos, havendo recebido a vida eterna, já não estarão sujeitas ao tempo. Como o tempo decorre com a repetição desses sete dias, talvez se denomine oitavo aquele que não depende de tal sucessão”.
“Existe outra possibilidade de se aceitar que aqui razoavelmente oitavo seja o juízo, a sobrevir após duas gerações: uma relativa ao corpo, outra atinente à alma. Pois, de Adão a Moisés o gênero humano viveu conforme o corpo, quer dizer, segundo os ditames da carne, também chamada homem exterior e homem velho (cf. Ef 4, 22), e ao qual foi dado o Antigo Testamento, a fim de que por meio de ações ainda carnais, embora religiosas, prefigurasse as futuras, espirituais”.
“Por todo o tempo em que se vivia segundo o corpo, ‘reinou a morte’, como assegura o Apóstolo, ‘também sobre aqueles que não pecaram’. Ela reinou, porém, ‘à imitação da transgressão de Adão’, conforme diz o mesmo Apóstolo; porque ‘até Moisés’ (Rm 5, 14), entenda-se, até as obras da Lei, aqueles sacramentos, observados carnalmente, mantinham obrigados, por causa de certo mistério, mesmo os homens submissos a um só Deus”.
“Desde a vinda do Senhor, quando se passou da circuncisão da carne à do coração, realizou-se o chamado à vida segundo a alma, conforme o homem interior, também denominado homem novo, devido à regeneração e à renovação de costumes espirituais. É evidente que o número quaternário pertence ao corpo, por causa dos quatro elementos bem conhecidos de que consta e de suas quatro qualidades: secura, umidade, calor e frio”.
“Igualmente é beneficiado por quatro estações: primavera, verão, outono, inverno. São coisas bem conhecidas. Em outro lugar tratamos de maneira mais sutil, embora obscura, a relação do número quatro ao corpo. Neste sermão o evitamos, querendo adaptá-lo aos menos eruditos. Entende-se que o número ternário é atinente à alma, porque o mandamento de amar a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo entendimento (cf. Dt 6, 5; Mt 22, 31) é tríplice”.
“Não convém tratar de cada um desses pontos a propósito do Saltério, e sim em torno do Evangelho. No momento, parece suficiente o supramencionado para atestar que o número ternário se relaciona à alma. Depois do número referente ao corpo, pertencente ao homem velho e ao Antigo Testamento, após também o da alma atinente ao homem novo e ao Novo Testamento, bem como decorrido o número setenário, pois eles todos são temporários, e tendo sido distribuído o quaternário para o corpo e o ternário para a alma, virá o oitavo dia, o do juízo, que repartirá segundo o mérito, e já não levará os justos às obras temporais, e sim à vida eterna, enquanto condenará eternamente os ímpios”.
Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 6, 2
“A referência alegórica ‘em oitava’ poderia estar ligada à numerologia, levando os leitores a pensar em números perfeitos e imperfeitos. Mas este não é o caminho a seguir. Convicções mais sóbrias levam a pensar ‘em oitava’ como o dia do Senhor, já que o oitavo dia é como o primeiro”.
Deodoro de Tarso (sec. IV)
Comentário ao Salmo 6
“Senhor, em vossa cólera não me repreendais, em vosso furor não me castigueis”
Salmo 6, 2
“‘Senhor, em vossa cólera não me repreendais’. O Apóstolo fala também em ira do juízo, ao declarar: ‘Estás acumulando ira para o dia da cólera e do justo juízo de Deus’ (Rm 2, 5). Quem deseja ser curado nesta vida, não quer ser arguído naquele dia. ‘Em vosso furor não me castigueis’ parece mais brando, uma vez que atende à emenda”.
“Quanto àquele que é arguído, isto é, acusado, receia-se que por fim sofra condenação. Como, porém, o furor aparenta ser mais do que a ira, talvez cause estranheza estar o mais suave, a correção, ao lado do mais duro, o furor. Mas, penso que as duas palavras significam o mesmo, porque em grego ‘thimós’, que se acha no primeiro versículo, é idêntico a ‘orgé’, no segundo. Os latinos, querendo empregar as duas palavras, procuram um sinônimo de “ira” e usaram ‘furor’”.
Por conseguinte, os códices divergem. Uns trazem primeiro ‘ira’, em seguida ‘furor’; outros, primeiro ‘furor’, depois ‘ira’; outros, em vez de furor, trazem indignação ou bílis. Seja como for, trata-se de emoção que provoca imposição de castigo. Não é atribuível tal emoção a Deus, como à alma. Dele se disse: “Tu, Senhor das virtudes, julgas com calma” (Sb 12, 18).
“Se está calmo, não se acha perturbado. Em Deus, que é juiz, não há perturbação. Todavia, os atos de seus servos, efetuados por meio das leis que são suas, chamam-se sua ira. A alma suplicante não somente não quer ser arguída com tal ira, mas nem sofreu tal correção, isto é, aceitar esta emenda ou instrução. No grego encontra-se ‘paideúses’, sejas instruído. São arguídos no dia do juízo todos os que não têm Cristo por fundamento”.
“São corrigidos, purificados, os que edificam sobre esse fundamento com madeira, feno, palha; sofrerão perda, mas serão salvos, de certa maneira através do fogo (cf. 1Cor 3, 11). Qual, portanto, o pedido de quem não quer ser arguído, ou corrigido, no momento da ira do Senhor? Qual senão o de ser curado? Na saúde não se cogita, com receio da morte, nem da mão do médico que cauteriza e corta”
Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 6, 3
Luz da Vida:
O programa Luz da Vida nasceu da necessidade de proclamar o nome santo de nosso Senhor Jesus Cristo, de levar a todos os corações a certeza de que não existe outro nome debaixo do céu pelo qual devamos ser salvos: Jesus Cristo.
“Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Mt 8, 12). Foi essa passagem bíblica que inspirou a criação e o nome do programa, que tem uma finalidade simples e audaciosa: apresentar Jesus Cristo como Caminho, Verdade e Vida. Como Luz que ilumina a vida de todos nós.
A cada programa, Dom José Falcão de Barros apresenta um tema diferente, abordando questões espirituais e materiais da vida hodierna, à luz do Evangelho de Jesus Cristo, da doutrina, do magistério e da tradição da Igreja Católica Apostólica Romana.