Frei Gilson e Dom José Falcão refletem sobre os critérios de canonicidade da Sagrada Escritura (2ª parte):
O critério da canonicidade estabelecido para os livros da Escritura é: primeiramente, os livros recebidos pela unanimidade das igrejas; em seguida, os livros recebidos pela pluralidade das igrejas, incluídas as de sede apostólica (cuja sucessão episcopal remonta a um Apóstolo), ou que receberam uma carta apostólica. São os dois indícios que presumem a origem apostólica do cânon das ditas igrejas. Assim, Agostinho é uma das mais antigas testemunhas do cânon completo as Escrituras. A opinião de Agostinho fixou regra para o Ocidente todo.
Santo Agostinho (354-430)
A Doutrina Cristã, 2, 8, 12
Livros ausentes na Bíblia Protestante:
Tobias, Judite, Macabeus I e II, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, Ester (algumas adições) e Daniel (algumas adições)
“O cânon completo das Sagradas Escrituras, ao qual se referem as considerações precedentes, compreende os seguintes livros: os cinco e Moisés, a saber: o Gênesis, o Êxodo, o Levítico, os Números e o Deuteronômio; um livro de Jesus, filho de Nave (Josué) e um dos Juízes; um livrinho intitulado Rute, o qual parece pertencer ao começo da história dos Reis; seguem-se os quatro dos Reinos e dois dos Paralipômenos que não são a sua sequência, mas, por assim dizer, uma complementação. Todos esses livros são narração histórica que contêm o desenvolvimento das épocas e a ordem dos acontecimentos. Há outras histórias de tipo diferente que não possuem conexão com a ordem dos acontecimentos anteriores, nem se relacionam entre si, como os livros de Jó, de Tobias, de Ester, de Judite, os dois livros dos Macabeus e os dois de Esdras. Estes parecem seguir antes aquela história que ficara suspensa com os livros dos Reis e dos Paralipômenos. Depois, seguem os Profetas, entre os quais se encontra um livro de Davi, os Salmos, três de Salomão: os Provérbios, o Cântico dos Cânticos e o Eclesiastes. Os outros dois livros dos quais um é a Sabedoria e o outro, o Eclesiástico, são atribuídos a Salomão por certa semelhança com os precedentes, mas comumente se assegura que quem os escreveu foi Jesus, filho de Sirac. E, como mereceram ser recebidos com autoridade (canônica), devem ser contados entre os livros proféticos. Os livros restantes são os propriamente chamados dos Profetas. Doze são esses livros, correspondendo cada qual a um profeta. Como estão conexos e nunca foram separados, são contados como um só livro. Eis o nome dos profetas: Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Em seguida, os quatro livros dos grandes profetas: Isaías, Jeremias, Daniel e Ezequiel. Estes quarenta e quatro livros possuem autoridade no Antigo Testamento. Quanto ao Novo Testamento, compreende os quatro livros do Evangelho segundo São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João; as quatorze cartas de são Paulo: uma aos Romanos, duas aos Coríntios, uma aos Gálatas, uma aos Efésios, uma aos Filipenses, duas aos Tessalonicenses, uma aos Colossenses, duas a Timóteo, uma a Tito, uma a Filêmon e uma aos Hebreus; as duas de são Pedro; as três de são João; o livro único dos Atos dos Apóstolos e outro único de são João intitulado Apocalipse”
Santo Agostinho (354-430)
A Doutrina Cristã, 2, 8, 13
“Agora tratemos das Escrituras divinas, que a Igreja católica universal deve acolher e o que deve evitar. Começa a ordem do Antigo Testamento. Gênesis, 1 livro; Êxodo, 1 livro; Levítico, 1 livro; Números, 1 livro; Deuteronômio, 1 livro; Josué, 1 livro; Juízes, 1 livro; Rute, 1 livro; Reis, 4 livros (= Samuel, 2; Reis, 2); Paralipômenos (Crônicas, 2 livros); 150 Salmos (Saltério), 1 livro; Salamão (Salomão), 3 livros: Provérbios, 1 livro; Eclesiastes, 1 livro; Cântico dos Cânticos, 1 livro; Sabedoria, 1 livro; Eclesiástico, 1 livro. Igualmente, a ordem dos Profetas: Isaías, 1 livro; Jeremias 1 livro, com as Cinot, isto é, suas Lamentações; Ezequiel, 1 livro; Daniel, 1 livro; Oséias, 1 livro; Jonas, 1 livro; Naum, 1 livro; Joel, 1 livro; Abdias, 1 livro; Jonas, 1 livro; Naum, 1 livro; Ambacum (Habacuc), 1 livro; Sofonias, 1 livro; Ageu, 1 livro; Zacarias, 1 livro; Malaciel [Malaquias], 1 livro. Igualmente, a ordem das histórias: Jó, 1 livro; Tobias, 1 livro; Esdras (Hesdras), 2 livros: 1 de Esdras, 1 de Neemias; Ester, 1 livro; Judite, 1 livro; Macabeus, 2 livros. Igualmente, a ordem da Escritura do Novo e eterno Testamento, que a Igreja santa e católica (romana) reconhece [e venera]: dos Evangelhos (4 livros): segundo Mateus, 1 livro; segundo Marcos, 1 livro; segundo Lucas, 1 livro; segundo João, 1 livro. (Igualmente, dos Atos dos Apóstolos, 1 livro). Cartas de Paulo (Apóstolo), em número de 14: aos Romanos, 1 (ep.), aos Corintios, 2 (ep.), aos Efésios, 1; aos Tessalonicenses, 2; aos Gálatas, 1; aos Filipenses, 1; aos Colossenses, 1; a Timóteo, 2; a Tito, 1; a Filímon (Filêmon), 1; aos Hebreus, 1. Igualmente, o Apocalipse de João, 1 livro. E dos Atos dos Apóstolos, 1 livro. Igualmente, as cartas canônicas, em número de 7: Do apóstolo Pedro, 2 cartas; do Apóstolo Tiago, 1 ep.; do Apóstolo João, 1 ep., do outro 1 João, o presbítero, 2 ep., do Apóstolo Judas, o Zelote, 1 ep. Termina o cânon do Novo Testamento”
Sínodo de Roma (382)
Decretum Damasi (DzH 179)