Dom José Falcão de Barros reflete sobre a frase “Venha a nós o Vosso Reino, da oração do Pai Nosso, e um texto de Santo Tomás de Aquino.

Podemos perguntar: Se o reino de Deus sempre existiu, por que pedimos a sua vinda? Devemos responder a esta pergunta de três maneiras: a) Primeiro: o reino de Deus, em sua forma acabada, supõe a perfeita submissão de todas as coisas a Deus. Um rei não será rei, efetivamente, antes de que todos os seus súditos lhe obedeçam. Sem dúvida, Deus, pelo que é e por sua natureza, é o Senhor do universo; e o Cristo, sendo Deus e sendo homem, tem, como Deus, o senhorio sobre todas as coisas. Diz Daniel: No mais antigo dos dias foi lhe dado o poder, a honra e a realeza (Dn 7, 14). É preciso que tudo lhe seja submetido. Mas isto ainda não é assim e se realizará no fim do mundo. Está escrito: É necessário que ele reine, até que ponha todos os inimigos debaixo de seus pés (1Cor 15, 25). Eis por que pedimos: venha a nós o vosso reino. Assim fazendo, pedimos três coisas, a saber: que os justos se convertam; que os pecadores sejam punidos; que a morte seja destruída. Os homens são submetidos ao Cristo de duas maneiras: ou voluntariamente ou contra a vontade. A vontade de Deus, com efeito, possui tal eficácia, que não pode deixar de se realizar totalmente. E já que Deus quer que todas as coisas sejam submissas ao Cristo, é preciso necessariamente ou que o homem cumpra a vontade de Deus, submetendo-se a seus mandamentos — o que fazem os justos — ou que Deus realize sua vontade naqueles que lhe desobedecem, isto é, nos pecadores e nos seus inimigos, punindo-os. O que acontecerá, no fim do mundo, quando Ele colocará seus inimigos debaixo de seus pés (cf. Sl 110[109], 1). Por isso, é dado aos santos pedir a Deus a vinda de seu reino, com a total submissão de todos à sua realeza. Mas esse pedido faz tremer os pecadores, pois assim terão de se submeter aos suplícios requeridos pela vontade divina. Infelizes aqueles (pecadores) que desejam o dia do Senhor (Am 5, 18). A vinda do reino de Deus, no fim dos tempos, será também a destruição da morte. O Cristo é a vida; ora, a morte — que é contrária à vida — não pode existir em seu reino, segundo a palavra: O último inimigo a ser destruído será a morte (1Cor 16, 26), o que quer dizer que na ressurreição, segundo São Paulo, o Salvador transformará nosso corpo de miséria, e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso (Fl 3, 21) (Santo Tomás de Aquino, In orationem dominicam, 35-42)