Os salmos na nossa vida – Salmo 7 – Apelo à justiça de Deus


Dom José Francisco Falcão de Barros
reflete o Salmo 7,14. Cita textos de Santo Agostinho e São João Crisóstomo:

“Contra os ímpios apresentará dardos mortíferos, lançará flechas inflamadas”
Salmo 7,14

“‘Contra os ímpios apresentará dardos mortíferos’. A meu ver, ‘dardos’ são as Sagradas Escrituras, onde a força do Novo Testamento, uma espécie de nervos, dobrou e domou a dureza do Antigo Testamento. Daí, quais setas, são enviados os Apóstolos, ou lançados os divinos anúncios. Tais setas foram feitas ‘contra os ímpios’, a fim de que, feridos, ardessem no amor divino. Que outra espécie de seta feriu aquela que diz: ‘Introduzi-me na adega, colocai-me entre os unguentos, cercai-me de doçuras, porque estou ferida de amor?’ (Ct 2,4, seg. LXX)

“Seriam diferentes as setas que inflamam aquele que, desejoso de voltar a Deus e regressar desta peregrinação, pede auxílio contra as línguas enganosas, e é interrogado: ‘Qual será a tua paga, o teu castigo, ó língua enganadora? Aguçadas setas de poderosos, com carvões devoradores’ (Sl 119, 3.4). Quer dizer, ferido e inflamado por elas, arderás de tanto amor pelo reino dos céus que desprezarás as línguas dos opositores e dos que querem desviar-te desse propósito e rirás de suas perseguições, dizendo: ‘Quem me separará do amor do Cristo? A tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada?”

“Pois estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundeza, nem nenhuma outra criatura poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor’ (Rm 8, 35.38-39). Mas, como o salmista afirma que o Senhor preparou no arco não somente dardos, como também ‘flechas inflamadas’, pode-se perguntar o que são tais flechas inflamadas. Acaso os hereges? Pois estes, projetando-se do mesmo arco, isto é, das mesmas Escrituras, assaltam as almas, não para inflamá-las de caridade, mas para matá-las, envenenando-as, o que é bem merecido”.

“Assim, esta disposição é igualmente atribuível à divina Providência; não que ela suscite pecadores, mas porque esta tudo reconduz à ordem, depois que eles pecaram. Os que leem com má intenção, por causa do pecado e como castigo do mesmo, necessariamente entendem mal. Pela morte desses, quais espinhos, os filhos da Igreja católica são despertados e progridem no entendimento das divinas Escrituras. ‘É preciso que haja até mesmo cisões entre vós, a fim de que se tornem manifestos entre vós aqueles que são comprovados’ (1Cor 11, 19), isto é, entre os homens, porque Deus os vê com toda clareza”.

“Ou acaso dispôs Deus as mesmas setas e armas mortíferas para a perdição dos infiéis e fez setas ardentes, ou as fez para os ímpios, tendo em vista exercitar os fiéis? Não é falsa a afirmação do Apóstolo: ‘Para uns, odor que da vida leva à vida; para outros, odor que da morte leva à morte. E quem estaria à altura de tal missão’ (1Cor 2, 16)? Não é de admirar, pois, se os próprios apóstolos são armas mortíferas para os seus perseguidores e setas de fogo para inflamar os corações dos fiéis”.

Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 7, 14-15

“Utiliza o termo ‘apresentará’ para mostrar a maior veemência e rapidez do castigo; e com ‘lançará’ (indica) a proximidade e (significa) o que sucederá totalmente, se não houver conversão; com as flechas inflamadas, lembra aos responsáveis que, instruídos mediante todas essas coisas, reprimam o mal. Se todas essas coisas fossem próprias do furor e da cólera, não seriam ditas antes do que deveria acontecer. Pois a ira não age assim, mas exatamente de forma contrária, especialmente quando está no seu ponto crítica, tanto na punição como na preparação da tortura”.

“Os inimigos e aqueles que querem infligir tortura, não apenas não expressam isso, mas também atacam escondido para que quem vai ser punido não descubra e fique em guarda. Mas Deus não age assim, mas muito pelo contrário, prevê, publica e faz temer com palavras, e organiza tudo para que não aconteçam as coisas com as quais ele ameaça. Foi assim que ele agiu com os ninivitas. Na verdade, ali ele também armou o arco, brandiu a espada e preparou as flechas, mas não infligiu o golpe. Ou talvez não parece-te que o arco, o dardo e a espada afiada também são as palavras do profeta, quando ele diz: ‘Dentro de três dias Nínive também será destruída?’ (Jn 3, 4)

Mas ele não atirou a flecha, nem a preparou para ser lançada, mas para que se retirasse. Os soldados, na verdade, estão armados para punir: Deus, porém, não age assim, mas antes retira sua mão do suplício, tornando-os mais prudentes através do medo. Portanto, não devemos ficar perturbados; na verdade, o medo das expressões é de uma grande clemência, e quanto mais intolerável é o que ele diz, com tanto maior mansidão menciona essas coisas. Também os pais, quando querem castigam seus filhos, usam a raiva em suas palavras”.

“Além disso, Deus, por não querer punir, também exagera o medo através das palavras. Ele também diz que prepara a Geena para não nos enviar para ela; assim também nos Evangelhos encontram-se muitas expressões sobre punição (cf. Mt 5, 22.29-30; 18, 9; Mc 9, 43.45.47; Lc 12, 5; etc), inclusive sobre o Reino. Uma vez que entre os mais ignorantes a esperança das coisas boas não os arrasta em direção à virtude nem os afasta do mal tanto quanto o medo dos tormentos, é por isso que ele insiste mais nessas coisas e as coloca com frequência”.

“Então não fiquemos tristes em ouvir palavras fortes, porque (elas) contêm o maior benefício; e, considerando sua paciência e seu julgamento justo, não desesperemos da salvação, pois Ele é paciente; nem fiquemos tristes, pois Ele é justo. Nesta vida, Ele mostra muita paciência, mas na outra ele entregará à tortura anunciada aqueles que não a merecerem aqui na terra. Para que isso não aconteça, rejeitemos a tortura já aqui”.

São João Crisóstomo (347-407)
Comentário aos Salmos, 7, 12, 1-2

 

Luz da Vida:
O programa Luz da Vida nasceu da necessidade de proclamar o nome santo de nosso Senhor Jesus Cristo, de levar a todos os corações a certeza de que não existe outro nome debaixo do céu pelo qual devamos ser salvos: Jesus Cristo.

“Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Mt 8, 12). Foi essa passagem bíblica que inspirou a criação e o nome do programa, que tem uma finalidade simples e audaciosa: apresentar Jesus Cristo como Caminho, Verdade e Vida. Como Luz que ilumina a vida de todos nós.

A cada programa, Dom José Falcão de Barros apresenta um tema diferente, abordando questões espirituais e materiais da vida hodierna, à luz do Evangelho de Jesus Cristo, da doutrina, do magistério e da tradição da Igreja Católica Apostólica Romana.