Os salmos na nossa vida – Salmo 7 – Apelo à justiça de Deus


Dom José Francisco Falcão de Barros
reflete o Salmo 7,2-6. Cita textos de Santo Agostinho e São João Crisóstomo:

Senhor, ó meu Deus, é em vós que eu busco meu refúgio; salvai-me de todos os que me perseguem e livrai-me, para que o inimigo não me arrebate como um leão, e me dilacere sem que ninguém me livre.
Salmo 7,2-3

“‘Senhor, ó meu Deus, é em vós que eu busco o meu refúgio; salvai-me de todos os que me perseguem e livrai-me’. Fala o salmista como alguém já perfeito, e que superou toda a luta e oposição dos vícios, restando-lhe apenas vencer o diabo invejoso: ‘Salvai-me de todos os que me perseguem e livrai-me, para que o inimigo não me arrebate como um leão, e me dilacere sem que ninguém me livre’. Declara o Apóstolo: ‘O vosso adversário, o diabo, vos rodeia como um leão a rugir, procurando quem devorar’ (1Pd 5, 8). Por este motivo, havendo dito no plural: ‘Salvai-me de todos os que me perseguem’, passa para o singular: ‘para que ninguém qual leão arrebate a minha alma’. Não disse: não arrebatem, sabendo qual o inimigo que persistirá e se oporá violentamente à alma perfeita. “Sem haver quem a resgate ou salve”, quer dizer: não arrebate ele, quando tu não resgatas, nem salvas. Se, por conseguinte, Deus não resgata nem salva, ele arrebata”.

Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 7, 2

 

“Davi escreveu este Salmo como agradecimento a Deus. Por isso, disse no começo: ‘Senhor, ó meu Deus, é em vós que busco o meu refúgio. Salvai-me’. Não em Cus, nem na sabedoria humana, nem na sua prudência, nem na própria opinião, mas ‘em vós’. Isto é o que nós também devemos fazer: se algo de bom foi realizado pelos homens, devemos render graças a Deus, tanto para nós quanto para os outros, graças aos quais fomos beneficiados. Assim agindo, não encontraremos dificuldade. Também Davi fez o mesmo, dizendo: ‘Não depositei a esperança de salvação nas palavras de Cus, mas em vossa ajuda’. Vede com quanta convicção ele fala. Ele não disse: ‘Senhor Deus’, mas ‘Senhor, meu Deus’; e, em outro lugar: ‘Ó Deus, vós sois o meu Deus, desde a aurora vos busco’ (Sl 63, 2). Em todas essas coisas, tinha necessidade d’Ele, particularmente graças à grandeza do seu desejo. Deus agia desse modo com os justos, e sendo Deus de todos, dirige-se sobretudo aos justos desse modo: ‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e de Jacó’ (Ex 3, 6).

São João Crisóstomo (347-407)
Comentário aos Salmos, 7, 3

 

“O diabo na Escritura é chamado ‘leão’; escuta aquele que diz: ‘O vosso adversário, o demônio, vos rodeia, como um leão que ruge, buscando a quem devorar’ (1Pd 5, 8). A mesma coisa diz o profeta, em outra passagem: ‘Calcarás aos pés o leão e o dragão’ (Sl 91, 13). Ele é uma fera multiforme, mas, se formos sóbrios, este mesmo leão e dragão será mais vulgar que a lama, não se insurgirá contra nós, não nos armará ciladas e, se as armar, será pisoteado: ‘Sobre serpentes e víboras andarás’ (Sl 91, 13). Ele anda ao redor, certamente, com ânimo inflamado, como um leão; mas se se lançar contra aqueles que têm Cristo, a cruz em sua fronte, o fogo do Espírito e a lâmpada que nunca se apaga, ele não resistirá, irá embora e não ousará voltar”.

São João Crisóstomo (347-407)
Comentário aos Salmos, 7, 3

 

Senhor, ó meu Deus, se acaso fiz isso, se minhas mãos cometeram a iniquidade, se fiz mal ao homem pacífico, se oprimi os que me perseguiam sem motivo, que o inimigo me persiga e me apanhe, que ele me pise vivo ao solo e atire a minha honra ao pó.
Salmo 7,4-6

“‘Senhor, ó meu Deus, se acaso fiz isso’. O que é que ele denomina ‘isso?’ Acaso deve-se entender o pecado, em geral, uma vez que não cita a espécie de pecado? Se esta explicação desagrada, aceitemos que ‘isso’ se refere ao que segue, como se perguntássemos: O que significa ‘isso?’ A resposta seria: ‘Se minhas mãos cometeram a iniquidade’. Já se torna evidente que se trata de todo pecado ao dizer: ‘Se paguei com o mal aos que me retribuíram com o mal’. Não pode dizê-lo com toda verdade senão quem for perfeito. Disse o Senhor: ‘Deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito. Ele faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos’ (Mt 5, 48.45). É perfeito, portanto, quem não paga com o mal aos que lhe retribuem com o mal. Ao orar a alma perfeita, ‘por causa de Cus, o benjaminita’, isto é, devido ao conhecimento do segredo e silêncio que, por nossa salvação, guardou o Senhor propício e misericordioso, tolerando e suportando com a máxima paciência os ardis do traidor, diga o Senhor e esta alma perfeita, expondo a razão do próprio segredo: Por ti, ímpio e pecador, suportei o traidor com profundo silêncio e grande paciência, a fim de que tuas iniquidades fossem lavadas na efusão do meu sangue; acaso não me imitarás, sem pagar o mal com o mal?”

Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 7, 3

 

Luz da Vida:
O programa Luz da Vida nasceu da necessidade de proclamar o nome santo de nosso Senhor Jesus Cristo, de levar a todos os corações a certeza de que não existe outro nome debaixo do céu pelo qual devamos ser salvos: Jesus Cristo.

“Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Mt 8, 12). Foi essa passagem bíblica que inspirou a criação e o nome do programa, que tem uma finalidade simples e audaciosa: apresentar Jesus Cristo como Caminho, Verdade e Vida. Como Luz que ilumina a vida de todos nós.

A cada programa, Dom José Falcão de Barros apresenta um tema diferente, abordando questões espirituais e materiais da vida hodierna, à luz do Evangelho de Jesus Cristo, da doutrina, do magistério e da tradição da Igreja Católica Apostólica Romana.